DeepSeek pode alterar os rumos da corrida global por IA, dizem especialistas


Conforme o
mais recente relatório da Universidade Stanford, publicado no ano passado, de
todos os “modelos notáveis” de IA lançados ao longo de 2023, 61
resultaram dos esforços de instituições e desenvolvedores sediados nos EUA,
superando os 21 modelos apresentados pela União Europeia e os 15 da China. Dos
36 países avaliados na ocasião, o Brasil terminou na 34ª posição, à frente da
Nova Zelândia e da África do Sul.
Seguindo o
exemplo estadunidense, outros países decidiram investir grandes somas em
dinheiro na pesquisa em IA. Principalmente a China e algumas outras nações
asiáticas (Japão, Índia, Malásia e Coreia do Sul), que, rapidamente,
transformaram-se em uma força motriz que ajudou a impulsionar o crescente
número de novas patentes registradas em todo o mundo. E consolidando a crença
em que, para ter sucesso nesse setor, seria preciso cada vez mais dinheiro para
custear estruturas computacionais cada vez mais sofisticadas.
De acordo
com o relatório da Universidade Stanford, em 2023, “os custos de treinamento de
modelos de IA de última geração atingiram níveis sem precedentes”, com os 36
países analisados investindo em torno de US$ 25,2 bilhões no desenvolvimento de
ferramentas de inteligência artificial. Só a Google gastou cerca de US$ 191
milhões para alimentar ao seu Gemini Ultra com as informações computacionais
necessárias para habilitá-lo a aprender a identificar padrões e criar conexões
por si só. Já a OpenAI gastou cerca de US$ 78 milhões para
"treinar" o GPT-4.
"Ao
longo dos últimos anos, na medida em que os algoritmos e as soluções de
inteligência artificial foram avançando, o mercado se preparou para funcionar
com uma determinada estrutura de custos de processamento [de dados] e de
equipamentos", explicou o coordenador do MBA de Negócios Digitais da
Fundação Getulio Vargas (FGV), André Miceli, à Agência Brasil.
Toda esta
“estrutura” sofreu um abalo em 20 de janeiro deste ano, quando a startup chinesa
DeepSeek apresentou ao mundo seu assistente virtual (chatbot) DeepSeek R1. Modelo que, segundo
a própria empresa e especialistas, combina custos de produção
significativamente menores que os dos concorrentes e soluções computacionais
eficientes, capazes de entregar, gratuitamente, resultados parecidos e, em
alguns aspectos, superiores aos de outros assistentes de ponta, pagos.
De acordo
com a própria DeepSeek, seus desenvolvedores obtiveram resultados semelhantes
aos dos concorrentes gastando em torno de US$ 6 milhões, ou o equivalente a
aproximadamente R$ 35 milhões. Além disso, ao contrário das grandes empresas de
tecnologia (bigtechs), a DeepSeek decidiu disponibilizar o acesso ao chamado
código-fonte do R1, permitindo a qualquer interessado conhecer o conjunto de
instruções usado para criar o programa.
“O aspecto
mais importante dessa nova tecnologia é mostrar que o volume de recursos
necessários para competir em IA não é inalcançável para países como o nosso”,
afirmou a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, em
entrevista à CNN, no último dia 30.
Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, a real dimensão do
feito da startup ainda
é incerta, principalmente quanto ao investimento feito, já que o valor
anunciado pela DeepSeek parece não levar em conta os investimentos prévios que
o governo chinês fez a fim de dotar o país da estrutura necessária ao
desenvolvimento de múltiplas plataformas de IA. Ainda assim, segundo esses
mesmos especialistas, os resultados já conhecidos sinalizam que a DeepSeek
desafia a hegemonia das gigantes estadunidenses e pode ajudar o mercado a
redefinir os parâmetros da corrida global pelo desenvolvimento da IA. Tanto
que, ao tornar-se um dos assistentes virtuais gratuitos mais baixados das lojas online,
o R1 abalou o Vale do Silício, causando uma queda nas ações das empresas de
tecnologia.
“A grande
diferença entre o DeepSeek e o que tínhamos até então é a característica do
ambiente necessário para o sistema funcionar. Aparentemente, ele vai fazer
praticamente a mesma coisa que o ChatGPT, que, hoje, é a ferramenta mais usada,
com uma estrutura de processamento mais simples, que consome entre 15% e 20% da
quantidade de recursos computacionais necessários. Isso mexe em toda a
estrutura que vinha se desenhando longo dos últimos anos. Por exemplo, podemos
não precisar mais de tanta energia elétrica quanto imaginávamos que seria
necessário para rodar programas sofisticados de inteligência artificial”,
acrescentou André Miceli.
Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2025-02/deepseek-pode-mudar-rumo-da-corrida-global-por-ia-dizem-especialistas
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